Cidade das igrejas

Cidade das igrejas

Cidade das igrejas

Casas da Formosa 0 Comentários Terça-feira, 31 de Janeiro de 2017

É notável o conjunto de arquitetura religiosa que a cidade possui. Apesar de não ter sido escolhida para sede do Bispado do Algarve no século XVI, quando Silves se encontrava em decadência, Tavira manifesta uma enorme sensibilidade religiosa, erigindo inúmeros centros de devoção, o que é igualmente sintomático da sua importância e prosperidade aos longos dos séculos.

Hoje em dia são vinte e uma igrejas. Com efeito, ainda mal terminara a conquista do lugar pela Ordem de Santiago e já este contava com as matrizes de Santa Maria e de Santiago, em resultado do aproveitamento e adaptação das antigas mesquitas árabes.

O desenvolvimento urbano será sempre pontuado pela Igreja, seja através das matrizes, dos templos de ordens terceiras e confrarias ou através de instalações mais amplas, como os conventos. A Igreja também beneficia da próspera conjuntura socioeconómica dos séculos XV e XVI, associada ao crescimento demográfico, à expansão urbana e ao período em que o porto de Tavira era o de maior irradiação para a defesa e manutenção das praças lusas do Norte de África. A arquitetura e a produção artística para ornamento dos templos conhecem nestes séculos uma atividade considerável através das paróquias, ordens religiosas, irmandades e confrarias. Nota-se, aliás, que a origem de algumas casas religiosas reflete a estreita relação de Tavira com o projeto de expansão da coroa para o Norte de África, caso do convento de N. Sr.ª da Piedade, fundado por D. Manuel I em ação de graças pelo levantamento de um cerco mouro a Arzila; ou do convento agostinho de Nossa Senhora da Graça, fundado em Tavira após uma tentativa frustrada de o fazer erguer em Azamor.

A diminuição da importância da cidade nos séculos posteriores não afeta sobremaneira o ritmo de fundação de novos edifícios religiosos, os quais são marcados com mais ou menos austeridade de acordo com as flutuações estilísticas e temporais. Os tavirenses manterão a proximidade aos centros de devoção. Exemplo disso são os anos de estabilidade de D. Pedro II e D. João V, enquadrados pela exultação barroca da Igreja contrarreformista, favorecendo um novo período de grande atividade na construção de igrejas e na ornamentação das existentes.

Os sentimentos anticlericais que caracterizam os séculos XIX e XX traduzem-se na secularização ou desaparecimento de alguns templos, fazendo reduzir para vinte e um os cerca de vinte e cinco anteriormente existentes. O saldo histórico apresenta-se, ainda assim, extremamente vantajoso para a cidade.

É de realçar a riqueza artística acumulada ao longo de séculos nestas igrejas, a pluralidade de estilos, disciplinas e artistas que nelas se encontram. A qualidade dos vestígios góticos e manuelinos da matriz de Santa Maria ou do antigo convento de São Francisco, a elegância personalizada do renascimento na Misericórdia do mestre André Pilarte, a força do “estilo chão” nas igrejas de São Paulo ou da Graça ou ainda exuberância decorativa dos espaços barrocos do Carmo ou São José, definem em conjunto, nestes ou noutros templos da cidade, todo um percurso sugestivo da arte portuguesa, das suas cambiantes estilísticas e interpretações locais.

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